março 18, 2018

dores

Eleven A.M.
1926
Edward Hopper


...forrou o coração de cinzento, e com lages de granito o trancou. as lágrimas ecoavam na seda, outrora nossa, rivalizando com cadência desordenada da chuva grossa. o estremecer da trovoada lá fora confundia-se na ensurdecedora dor do sangue nas veias, que pouco corria.
da dor que ainda circula, e não se consegue traduzir, quando o raio de sol me reflecte a luz do teu rosto.
da dor que a medicina não cura, que eu não pedi, que vai e vem dona de si mesmo, como tu outrora.
da dor que... aqui semeaste e sempre germina.

tirado dos caderninhos longínquos, outras vidas portanto.





março 10, 2018

Cama


desenho sobre a cena final de Fight Club
(poderá ter direitos de autor)

O chão é cama para o amor urgente,
amor que não espera ir para a cama.
Sobre tapete ou duro piso, a gente
compõe de corpo e corpo a húmida trama.

E para repousar do amor, vamos à cama.

Carlos Drummond de Andrade
em "O Amor Natural"

Olho para aqui, e vejo, que além da concretização física do amor não se limitar a uma cama, vejo que o amor é muito de liberdade. Começando pelo facto de poder ser platónico, à liberdade de ser secreto, felizmente doentio, corporal, sem tempo e espaço confinados a uma qualquer cama. Mas as pessoas tendem a normalizá-lo, a seguir regras sociais como o convênio namoro, casamento, filhos, a fazer dele uma casa... Algo que nasceu para ser livre.

E agora me lembro, nunca tivemos uma cama que fosse nossa.