julho 13, 2017

ócio

Two for Tango,
by Fabián Pérez ©

Enquanto o mundo dorme a sesta, pego no Evangelho segundo Jesus Cristo, do José Saramago, na toalha, cigarrilhas e Ray Ban, encho o peito de ar, e permito-me uma tarde de ócio vazio na piscina.

O ambiente está calmo, algo geriátrico em russo, e recheado de quarentas, alguma selectividade, alguns livros, poucas crianças e um fantástico azul no céu e no reflexo do tanque de banhos.

Não me sai da cabeça, "eu quero ser amado como o barro nas mãos do oleiro".

Falava a Isabel Pires de tatuagens, muito mais em moda que em anos passados, e também eu constato que não tenho opinião na matéria. E parece-me que assim vai continuar, afinal o ócio é isso mesmo.

O ócio tende à parvoíce, e reparo no ritual libidinoso das senhoras que saem da piscina e apertam os peitos para escorrer a água do biquíni.

A vizinha da cama ao lado aparenta um estado metafísico agarrada a um livro. Há qualquer coisa de neurótico na senhora, nova ainda, e com medo de ser notada, está enterrada na leitura. Não consigo ver que livro é, apenas o nome do autor em letras garrafais - Eckhart Tolle. Pensei, talvez seja um autor novo que desconheço, e faço o uso do telemóvel para saber quem é o senhor. Desilusão, é um autor de livros sobre iluminação espiritual... O que bem visto enquadra-se no quadro geral da senhora vizinha.

Volto ao Evangelho, livro do qual estou a gostar porque sendo eu pessoa de fé, acho muito bom a visão de quem não a tem.

Mas isto requer concentração, que o ócio não me dá. Volto a espreitar mais um espremer de biquíni... dou a tarde como perdida.

Pai, anda lá a água está boa, vamos fazer umas bombas? O ambiente da piscina não pede miúdos a fazerem mergulhos barulhentos, e se calhar, era mesmo isso que estava a faltar. As crianças, verdadeiros génios no que ao quebrar do ócio dizem respeito. Vamos a isso!

Ao sair de uma bomba fenomenal que atingiu os geriátricos russos, ouço o tipo do piano tocar algo que me animou. Tango pois claro, o que deixa antever uma boa seroada.

por una cabeza,
de Carlos Gardel



3 comentários:

  1. Aperto dos peitos? Eh pá, isso parece algo saído do Benny Hill!
    Quanto ao Evangelho, não tendo fé eu, e sendo escrito por um homem sem fé, ainda digo que é o livro mais cristão que li.
    Boas férias, Miguel

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    1. Literalmente Benny Hill, mas é verdade eu vi, deverás divertido :)

      Quanto ao Saramago é um dos melhores, sem dúvida!

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  2. Um tango cai sempre bem, isso é verdade :) e esse Saramago é dos meus preferidos, também adorei a Blimunda e o Baltasar...
    O apertar dos peitos também já vi... Anouk andas distraída pah... :P

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